10/01/2018

2017: um ano difícil, mas surpreendente

   2017 foi um ano engraçado. Foi um ano em que eu esperava muitas coisas: que fosse um ano pesado, exaustivo, frustrante, desafiador. E, bom, realmente foi.
   O ano começou com a seguinte mensagem: "Você não passou na faculdade dos sonhos". Depois de um mês, sofrido, de espera, saia os resultados das minhas provas: primeiro o do ENEM, depois o da UNESP. E, nossa, foi uma bomba. Uma bomba poderosa, que conseguiu me atingir de uma forma que eu não sabia que era possível. 
   Eu lembro que eu estava pessimista, ao final do meu primeiro ano de vestibulanda, do meu desempenho dos vestibulares, contrariando a todos que diziam que eu passaria. E, no entanto, finalmente observar o meu resultado final foi devastador, decepcionante. Mais ainda, sentir aquilo, sentir aquela nota? Sentir como se você tivesse perdido uma batalha que havia sido tão árdua e que você havia dado todas as suas forças? Foi terrível. Foi frustrante. Foi destruidor.
    Eu nunca havia me sentido tão incapaz na minha vida. 
   Ainda, pior ainda foi ver a aprovação das outras pessoas. E o ego me maltratando a todo instante. "Olha só, todos eles passaram e menos você, viu? Olha como você é burra". E o que me veio, primeiramente, foram todos aqueles anos em que havia me dedicado aos estudos, em que eu havia dito para mim mesma que eu havia me esforçado tanto, abdicado uma possível (e idealizada) "vida social"  para me empenhar aos estudos, especialmente em 2016, e que não haviam valido para nada. Nada. Haviam sido um desperdício total. 
   E depois, o questionamento: por que? Por que eu não havia conseguido? Onde eu havia errado?  
   Todas as pessoas ao meu redor dizendo que haviam passado, todos aqueles comentários nos perfis dos futuros universitários parabenizando-os pela conquista, especialmente os dos meus antigos professores, que antes haviam me dito que eu era capaz. Eu. Por que não eu? Foi o meu principal questionamento: por que não eu?
   Pois bem, hoje eu sei a resposta para ela: pois eu não estava preparada. Intelectualmente, mas especialmente psicologicamente, socialmente, internamente.
   Foram tantas coisas que eu aprendi em 2017, tantas coisas que mudaram a minha forma de ver o mundo. Aconteceram-me tantas coisas nesse ano, tantas coisas que me acrescentaram tanto: confiança, determinação, força, e que me produziram aprendizados tão importantes! E que eu tenho a absoluta certeza de que, caso eu realmente tivesse passado no vestibular, eu talvez não os teria alcançado (ou teria, mas de uma forma mais tortuosa e sem o mesmo impacto que eles me produziram).
   Primeiramente, percebi que ser vestibulanda, acima de tudo, é ter a consciência de que os vestibulares não são justos, e portanto, a última coisa que eles fazem é avaliarem o nosso conhecimento (afinal, são muitos os tipos de conhecimentos que existem no mundo, e não são simplificados somente ao raciocínio lógico e capacidade de decorar conteúdos teóricos e didáticos). Dessa forma, estudar para passar na faculdade, infelizmente, não é resumido a entender toda a matéria do universo, e sim de analisar e perceber a maneira como cada vestibular cobra seu respectivos conteúdos, mesmo que muitos deles sejam totalmente irrelevantes para a sua futura vida acadêmica (ou para a sua futura vida mesmo).
    Segundo:  aprendi melhor a me relacionar com as pessoas ao meu redor, ou melhor, dei um grande passo para perder a minha fobia social (coisa que eu percebi que eu tenho faz um bom tempo). Foi até engraçado, na verdade, a maneira como eu me aproximei da primeira pessoa no cursinho, ambiente na qual a última coisa que eu esperava era conhecer pessoas tão incríveis! Pois eu lembro que eu fiquei mais ou menos uma semana sem conversar com ninguém, com medo, com receio de me acharem estranha, medonha, sem graça, desinteressante. Uma semana quebrando a cabeça, tentando elaborar um plano mental para poder me aproximar de alguém, assim como eu havia feito no ano anterior. E pois é, novamente eu me peguei tentando controlar coisas incontroláveis: a vida. Aliás, de novo eu fui surpreendida: no momento em que eu menos esperava eu puxei conversa com uma menina que estava sentada na mesa da cantina e que aparentava ser muito simpática, já que eu havia chegado cedo demais ali (assim como o ano inteiro, risos). E bem, hoje eu a considero uma das pessoas mais meigas, mais positivas e boas da minha vida, e que tenho tanto orgulho de ter conhecido!
   Isso somando ao fato que, ao pedir informações a uma então colega da minha classe no ponto de ônibus perto do cursinho, acabei por conhecer uma das pessoas que mais me fariam dar risada no ano inteiro: uma pessoa incrível, super do bem, e com quem eu criei uma intimidade tão grande em um intervalo de tempo tão pequeno! E isso foi incrível.
   Terceiro: comecei a me permitir entender que eu não sou perfeita e, estando especialmente no cursinho, eu não saberia todas as respostas do universo (na realidade, em qualquer lugar, nunca saberei, porque eu sou humana, não uma máquina). Portanto, tirar dúvidas com os professores ou inclusive com as próprias colegas não é a coisa mais humilhante da vida, pelo contrário. No cursinho a maioria dos professores foram tão incríveis que muitas vezes eles se sentiam lisonjeados em me ajudar. E essa bondade, essa empatia, esse acolhimento, num momento onde tudo o que queremos fazer é chorar e chorar e chorar por não conseguirmos saber de tudo, é tão bonito. É tão humano (ironicamente, em um ambiente e em um contexto tão desumano como o de estudar loucamente para fazer uma única prova).
   Em 2017 tive várias aprendizados, entre eles os que irei citar agora: nesse ano, eu percebi que existem pessoas tóxicas na minha vida e que eu tenho o total direito de querer tirá-las da minha vida, sem egoísmo, sem arrogância, sem ser a cuzona da história (porque na verdade mesmo as cuzonas mesmo foram elas, convenhamos). Comecei também a amar e a incorporar a minha forma de vestir sem medo de opiniões alheias, criando o meu próprio estilo. Em 2017, assumi descaradamente a minha atração por pessoas, por homens, porque eu também sou humana (inclusive por um professor, e meu deus, como foi difícil assumir isso). Assumi que eu tive crush por mais de três anos em um menino que nunca me notou, pela primeira vez, de uma forma descontraída, e isso foi engraçado e desafiador.
   Em 2017, consegui conversar ainda mais com mais pessoas sendo exatamente eu mesma, e essa sensação é indescritível. Em 2017, paquerei e beijei um crush pela primeira vez (e isso é sensacional!). Em 2017, dancei sem ter vergonha se eu estava parecendo um boneco de posto, e percebi, inclusive, o quanto a música mexe com a minha alma (me fazendo entrar em transe sem sequer ter ingerido alguma coisa). Em 2017, mudei completamente a minha forma de pensar sobre várias coisas, e percebi que eu preciso parar de ser uma esponja e necessito aprender as coisas pelas minhas próprias experiências, e não pelas alheias (porque tudo depende do contexto vivenciado, tudo é relativo!).
   Em 2017, consegui, pela primeira vez, me abrir para tentar me relacionar com alguém. E bem, nesse ano também tive a minha primeira desilusão amorosa; mas apesar disso, de ele ter me feito muito muito muito mal por ter me feito quebrar a cara e ter perdido um tempo enorme me iludindo, ele me fez bem também. Me fez sentir-me confiante, desejável, acolhida como eu nunca havia me sentido por nenhum cara. Foi a primeira vez que eu consegui conversar com um garoto sem sentir-me paranoica, deixando as coisas rolarem no seu devido tempo (mesmo que, no fim, isso tudo não tenha saído do ambiente virtual).
   Em 2017, fui totalmente honesta sobre um dos meus maiores problemas com a minha psicóloga, e que eu não tinha sequer conhecimento (por isso que eu amo tanto essa profissão!). Em 2017, aprendi a dizer "não" e a respeitar o meu corpinho exatamente da forma como ele merece (afinal ele é meu templo sagrado, não?). Em 2017, descobri o meu amor incondicional por gatos, me fazendo perceber, de novo, que gostos e preferências são relativos. Em 2017, reli o meu livro favorito da vida (e é um livro de vestibular, olha só). Em 2017, puxei conversa com dois crushes diferentes no cursinho (e como foi prazeroso conseguir ter feito isso!).
   Em 2017, ri tanto e não me preocupei se eu estava sendo ridícula rindo daquela forma, afinal rir é a melhor coisa do mundo (mas depois de abraçar, é claro). Em 2017, descobri que eu tenho uma amiga que é mais que minha amiga: é minha porto seguro, meu ombro quando eu preciso chorar, minha máquina de ouvir xingamentos quando eu quero somente estraçalhar a cabeça de alguém. Em 2017, aprendi a amar o meu corpo, os meus olhos, a minha sobrancelha, o meu nariz, do jeitinho que ele é: maravilhoso. Em 2017, eu percebi, percebi mesmo, que um das minhas maiores neuroses em mim mesma não passava de invenção, i-n-v-e-n-ç-ã-o, porque o meu corpo é perfeitinho do jeito que ele é e, alias, descobri também que alergia é alergia, só alergia, e não doença (infecciosa e nojenta, como meu ego sempre me falou a minha vida toda).
   Em 2017, percebi que cada coisa tem o seu devido tempo e, portanto, o fato de eu não ter passado de primeira no vestibular não me faz uma perdedora, pelo contrário: o fato de eu ter me permitido encarar toda essa jornada exaustiva e dolorida de estudos, tanto fisicamente como emocionalmente, me faz uma vencedora ainda maior, porque todo o meu esforço, que só eu sei o quanto ele existiu, vai ser recompensado. E aí sim vou me achar a maior vitoriosa do mundo, sensação que todo mundo merece sentir.
   Em 2017, aprendi que todo o meu contexto me fez ser o que eu sou, induzindo na construção das minhas barreiras, dos meus obstáculos, das minhas bolas de neve, das minhas inseguranças, mas também da minha determinação e dos meus valores mais profundos. E, portanto, os meus problemas não foram causadas por minha culpa, nunca foi. E, em 2017, eu também descobri forças em mim que quer desconstruir todos os probleminhas que afetaram a minha vida, social e individual, por tanto tempo: abraçando o meu passado, com todas as lágrimas e sendo a irmã mais velha que eu merecia ter sido para mim naqueles momentos tão obscuros, e corrigindo também posturas que me fizeram tão mal e que não as quero mais.
   Demorou para eu conseguir concluir esse texto, por motivos de vestibulares no início do ano e psicológico para conseguir me ordenar internamente, mas acho que estou finalmente conseguindo. 2017 foi um ano pesado, exaustivo, frustrante e desafiador, como eu disse inicialmente; mas foi um ano também tão intenso, tão grande, tão desafiador (no bom sentido), tão cheio de amor, tão cheio de aprendizados e experiências, tão cheio de desconstruções, tão humano, que eu não conseguiria sintetizá-lo em poucas palavras.
   2017 foi um ano necessário para a minha vida pessoal, e sem dúvidas seria um ótimo fechamento para esse ciclo que vivenciei por todo esse ano (mas que pareceu, sem dúvidas, ter se passado por muito mais tempo). Mas, como uma das coisas que eu aprendi nesse ano também foi de tentar aceitar as coisas que vêm para a gente, mesmo sendo inicialmente extremamente ruins, para tentar absorver delas as coisas mais boas que podem nos oferecer; caso isso não seja um encerramento, está tudo bem também.
    Eu somente sou intensamente grata por todo esse ano, turbulento, mas inesquecível, e espero que 2018 também me traga coisas boas. Que em 2018 eu continue tendo essa visão otimista que eu venho tentando desenvolver, e que eu consiga orgulhar as pessoas que eu mais amo nesse mundão inteiro (mesmo sabendo que eles já tem orgulho de mim, e essa sensação não tem preço).
   E que, por fim, em 2018 eu sinta ainda mais orgulho da pessoa que eu estou me tornando.

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