30/09/2015

Ilusão primordial


   Em meio a noite, a única luz que a fazia distinguir-se das sombras era a que vinha da janela entreaberta. E era de onde também a brisa gélida adentrava e bagunçava os seus cabelos, jogando-os em seu rosto de vez em quando. Seus olhos vagavam pelo quarto, pelo escuro, sem terem um ponto fixo. Era como se a sua mente não estivesse totalmente naquele lugar. 
   Ela só queria que ele viesse falar alguma coisa. Viesse-lhe dizer um oi,  perguntar-lhe como ela estava ou por que não estava dormindo ainda. Qualquer coisa.
   Ele fora tão atencioso com ela naquela noite. Mesmo não tendo dito nada, nem que ela estava tão bonita, ainda assim ela gostara tanto de estar com ele. E quando ele pedira a sua permissão, de maneira tão gentil, é lógico que ela aceitou. E naquele momento as coisas aconteceram tão rápido, foi algo tão estranho, mas no fundo tão bom. Partilharam de um momento tão gostoso, e ela ficou tão esperançosa de que as coisas fossem mudar depois disso. Mas elas não mudaram.
   Pois no dia seguinte nada aconteceu, assim como no outro que sucedeu. E ela ainda estava tão confiante, mas tão confiante de que ainda dava tempo. De que ele ainda fosse falar com ela e lhe dizer o quão bom fora aquele momento para ele também. Mas não aconteceu. Ele não deu notícias. E isso foi a cada dia que se passava fazendo-a com que se sentisse cada vez mais decepcionada.
   Por que ele não mandava logo uma mensagem para ela? Por que a fazia esperar tanto, como uma completa ingênua? Por que ele a fazia sofrer tanto, esperando por qualquer sinal de vida dele?
   E foi nessa noite que ela percebeu o porquê daquilo tudo, e ainda, percebeu o que estava fazendo. Ela estava deixando-se ficar triste por causa de uma pessoa que talvez nem estivesse mais se importando com a mesma. Ela estava passando noites em claro por alguém que talvez já houvesse a esquecido. E afinal, isso valia a pena? Estava valendo?
   Suspirou fundo, porque na verdade ela já sabia a resposta para aquilo. Fazer aquilo tudo só estava acrescentando ainda mais motivos para continuar a se iludir. Ela estava se iludindo, se iludindo com algo que talvez nem fosse de tanta importância.
   E foi nesse momento que percebeu que talvez nada daquilo fora um desperdício total. Que talvez todos os dias vividos sem muita lucidez desde aquela noite não tivessem sido uma completa estupidez. Pois foi só depois de tudo isso que ela percebeu que talvez esperar ainda mais não valeria esforço. Que ela precisava seguir em frente, mas não esquecer daquilo. Apenas erguer a cabeça e perceber que aquele momento passara, e permanecer esperando não resultaria em nada.
   Porém, o pior de tudo não foi isso. Pois, no dia seguinte ele finalmente viera falar com ela. E ela surpreendeu-se com a sua própria atitude, porque assim que ele veio ela simplesmente ergueu a cabeça e seguiu em frente. Afinal, foi só naquele momento que percebeu que ela não precisava mais sofrer por ele. Que ela não queria mais nada com ele. Que já era tarde demais para dar um passo para trás e voltar a ilusão que antes criara. E ela ficou tão feliz ao descobrir isso.

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