14/04/2015

A observadora


   A música estava soando alto enquanto conversávamos naquela "rodinha" de pessoas. Estávamos todos sentados em volta daquela mesa pequena e redonda, abordando dos assuntos mais variados possíveis. Uma menina que estava com o cabelo preso em uma longa trança havia perguntado para a menina loira platinada - que estava sentada ao seu lado - como havia sido o final de semana dela, enquanto o menino com o alargador vermelho comentava com o menino ruivo e cheio de sardas na bochecha sobre a garota com quem ele estava "ficando", e que estava pensando seriamente em propor a ela algo um pouco mais sério. E o garoto de cabelos cacheadinhos estava mexendo nos cabelos escuros da menina que tinha os olhos bem azuis, o que a fazia rir de uma maneira meiga.
   Revirei a minha taça de refrigerante enquanto observava o menino que tinha dreads no cabelo falar sobre o que havia acontecido com o irmão dele (o irmão dele, que era caçula, havia ficado mais ou menos uma hora de baixo do cobertor do quarto do menino de dreads porque queria dar um susto nele, mas no final ficara tanto tempo esperando por ele que acabara dormindo ali), o que fez todos rir, inclusive eu, mesmo daquele jeito quase mudo. 
   E foi quando eu resolvi fazer um comentário sobre aquilo, falando que eu também costumava fazer isso com o meu irmão quando era mais nova, que eu percebi que ninguém estava realmente prestando atenção em mim, pois ninguém sequer havia olhado para mim. E ainda, foi nesse momento que eu percebi que eu sequer estava fazendo parte daquela "roda de conversar". Afinal, essa havia sido a primeira vez que eu havia abrido a boca para falar alguma coisa, e como resposta àquilo as pessoas haviam apenas me ignorado. Como se eu nem estivesse ali.
   E talvez eu nem estivesse. Pelo menos não para essas outras pessoas, que conversavam tanto que pareciam nem me notar ali, apenas sorrindo daquela maneira instantânea para qualquer pessoa que olhava para mim de relance, e observando o que os outros faziam e falavam. De certa maneira, daquela vez aquilo me incomodou. E naquele momento eu me senti tão... deslocada. Como se eu estivesse ali, no meio daquelas pessoas tão alegres e extrovertidas, mas ao mesmo tempo eu estivesse tão longe delas... Como se eu não me encaixasse realmente naquele grupo de pessoas. Ou talvez eu não me encaixasse mesmo em nenhum outro grupo de pessoas...
   Não consegui impedir quando outros pensamentos relacionados a aquela situação começaram a surgir em minha mente. Em como eu era quieta e raramente me via conversando com alguém em ambientes como aqueles, com pessoas como aquelas, que pareciam ser tão legais, e na verdade elas eram mesmo. E eu percebi que eu quase nem ao menos era importante na vida daquelas pessoas, e possivelmente elas nem saberiam o meu nome, tampouco quem eu sou. E aquilo fez minha autoestima despencar tanto, mesmo se as pessoas não percebessem isso, afinal elas estavam tão entretidas falando sobre aquele sanduíche da cantina - que aparentemente era bem gostoso. 
   Todos esses pensamentos foram parcialmente esquecidos quando eu percebi que todos estavam se levantando e indo em direção da pista de dança. Lancei um olhar para o menino de alargador vermelho, que estava indo conversar com uma menina de óculos que estava do outro lado da sala - provavelmente para pedir ela em namoro -, já que eu o havia escutado comentar um pouco antes com o menino ruivo que ele queria pedir-a algo mais sério, naquele dia mesmo. Pois é, eu era mesmo uma boa observadora. E talvez esse fosse o meu problema: observar demais e participar tão pouco.
   Mas aquilo talvez estivesse prestes a mudar ali mesmo, em meio a aquela música um tanto melancólica para aquele ambiente: Echo - do Jason Walker, quando todos daquela mesa em que eu estava sentada poucos minutos atrás haviam se espalhado por aquele lugar. Menos um menino, um amigo do garoto que tinha dreads, que usava um gorro que quase escorregava de seu cabelo extremamente liso, que aparentemente havia voltado para a mesa porque havia esquecido o seu celular em cima dela. 
   "Ah, aliás, eu também gostava de fazer esses tipos de travessuras com os meus irmãos quando eu era mais novo, e um pouco retardado. E essa, de esconder de baixo do cobertor para tentar assustar eles, era a clássica." Foi o que ele disse quando passou por mim, quando eu estava a poucos centímetros de distância da saída daquele lugar.

2 comentários:

  1. Adorei o texto! Eu também costumo escrever <3
    Amei o blog, estou seguindo! beijos
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    1. Oii, fico feliz que tenha gostado dele :D. Sim, escrever é tão <33. Muito obrigada! Beijos!!

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